Punakha, Butão


25/4/2017
Embarcamos no simpático aeroporto de Kathmandu. Simples, paredes e pisos em pedras avermelhadas, atendentes sorridentes e interessados em aprender um pouco da nossa língua. Em inglês, alguns perguntam: "Como vocês dizem oi? Como dizem Obrigado? E de nada?" Sempre sorrindo, os funcionários da imigração me fizeram pensar nas várias vezes que fui recebida nos EUA por policiais desconfiados e de pouco papo. 

No vôo para Paro, escolhemos as janelas da esquerda, para termos a vista da cordilheira do Himalaia. Não dei muita bola quando a Lais, nossa amiga amada que está viajando com a gente saiu feliz do check in com os cartões de embarque do lado certo. 

A vista de Kathmandu não termina nunca, cidade enorme, e segue com pequenos povoados pelas montanhas. 
De repente, a vista muda para montanhas gigantes e esbranquiçadas pela neve. Cada uma maior que a outra e a cada uma eu e meus companheiros de viagem perguntávamos, empolgados: "é essa? Não! A próxima ali na frente é mais alta. Não! A outra!"
E aí, magnífico e tranquilamente assustador, sem duvida nenhuma, o Everest. Bem do nosso lado, rodeado por nuvens lá embaixo e montanhas intermináveis.
Enquanto eu fotografava, as lágrimas escorriam. 
A sensação de êxtase era a mesma de quando vi as pirâmides no Cairo. Ali, a montanha mais alta do mundo, que já levou tanta gente, que traz tanta gente. Linda. Inesquecível. 

A paisagem muda para nuvens e depois para um verde escuro de florestas cobrindo montanhas próximas de nós. Bem próximas. Vales, rios extensos e pequenos povoados vão encantando e ajudando a distrair enquanto o piloto (um dos únicos 8 do mundo autorizados a pousar neste aeroporto por causa das montanhas e vales que levam à Paro) faz as manobras incríveis pelas montanhas, curvas impossíveis e finalmente um pouso no aeroporto mais lindo que já vi, ao som de música budista tranquila. Chegamos a Paro. 

Uma foto gigantesca da família real nos recepciona, entre prédios rebuscados de entalhes de madeira pintados. Na fila da imigração fui decorando como dizer oi e obrigada na língua local, pensando que é antipático chegar em um país de cultura tão diferente sem demonstrar interesse por eles. A cada kuzoozangpo la, um sorriso. 

No Butão não é permitido entrar e sair mochilando ou dirigindo livremente e por conta própria. A gente reserva previamente um guia e paga todas as taxas de visitação, hotel, passeios e alimentação. O guia monta o passeio - que a gente pode alterar levemente, ou sugerir pontos de visitação, mas entramos no carro com motorista e guia e eles nos levam dali em diante, explicando e respondendo perguntas o tempo todo. Eles não nos deixam em nenhum momento. 
Sempre solícitos (estou falando no plural porque tivemos 2 guias até agora. O que havíamos reservado foi pra Índia fazer uma caminhada, o que ele designou está doente e teve que ir para o hospital e chamar um substituto, então o terceiro é o que ficou), param na beira da estrada para molharmos os pés no riacho transparente que acompanha a estradinha estreita e feita só de curvas, param para um chocolate quente com vista para a cordilheira do himalaia, param sempre que solicitado. Sobre as curvas da estrada, não contei, mas passamos por cerca de 1000, talvez. Eu enjôo em reta, imagine em curvas. 

Nos levaram até a Capital, Thimphu, para almoço e passeios. Subimos as escadinha até um restaurante simples, cheio de indianos, onde o buffet era servido enquanto as atendentes traziam na mesa chá de gengibre e green chilli, que só o Madá e o Ed, marido da Lais, conseguiram comer, por causa da pimenta fortíssima. O almoço era bem variado, arroz Branco (embora o país seja produtor de arroz vermelho, ainda não conseguimos comer dessa qualidade), legumes temperados com especiarias locais, que ainda não identifiquei, mas tenho o plano de achar um livro de culinária butanesa. Pra mim a comida é 30% do entendimento da cultura. Tinha frango, uma espécie de couve, mas meio parecida com almeirão ou espinafre, mas ao mesmo tempo, diferente disso. Uma delicia. Tinha uma sopinha amarela que parecia ser lentilha. Reparamos que as cenouras e batatas tem uma coloração mais amarelo-laranja que as nossas. Deliciosas, achamos que tem relação com a cor da terra local. Eles têm muitos cogumelos, deliciosos, de qualidades que não conhecia. Para a minha alegria completa, a agricultura butanesa é quase 100% orgânica, o que claramente evidencia os sabores perfeitos dos legumes. O frango é cortado com os ossos, então a cada pedacinho comido é preciso ir tirando as partezinhas duras do meio, o que não estraga em nada o prazer da degustação. 

Seguimos para o Big Buddha (Dordenma) no alto de uma montanha enorme. A mini van da Hiunday parecem que não vai aguentar subir tanto, mas o país é feito de subidas e descidas em curva, então aguentam sim! É o maior Buddha do mundo, com 52m de altura, dourado e  construído sob um templo de pastilhas douradas, correntes douradas, paredes de entalhes de madeira totalmente pintados de dourado. Lá dentro há 100 mil estatuinhas de budinhas pelas paredes e, claro, imagens da família real.  O local ainda está em construção, calçadas, portal, banheiros e detalhes internos. Ela foi financiado por chineses e intenta trazer paz, bênçãos e felicidade à todo o mundo. 

Seguimos de lá para a escola de artes local. Os adolescentes fazem testes e, se passam, cursam pintura, entalhe, costura, bordado ou escultura. Pudemos entrar em cada uma das salas e vê-los trabalhando detalhadamente em seus projetos. O objetivo é saírem profissionais dessas áreas e quem sabe um dia, trabalhar para o governo. 
A cultura local é ensinada, valorizada e controlada. A criação está liberada apenas até um ponto. Toda a arquitetura do país segue o mesmo estilo rebuscado de entalhes de madeira, telhados de madeira pintados, janelas lindas e detalhadas. 
Aqui no Butão há uma vestimenta designada pelo rei para todos os butaneses. Os homens usam uma espécie de quimono sem calça, comprido até o joelho e usado com meias longas e sapato social. Já reparei que eles aproveitam que sapato está liberado e escolhem os modelos mais personalizados possíveis. A roupa e de algodão xadrez, liso ou listrado. As mulheres usam uma saia longa e uma espécie de jaqueta com as mangas dobradas. Todos os butaneses usam esta roupa, a não ser na capital, onde vimos alguns jovens com roupas ocidentais. O guia explicou que estudantes e pessoas que trabalham precisam usar, mas se estão sem trabalho não é obrigatório. A internet só entrou no Butão em 2007, e o rei está preocupado com a influência dela no relacionamento entre as pessoas, e da pra notar a influência ocidental em alguns poucos jovens na capital. 
Seguimos para outra cidade, Punakha, a cidade com menor altitude no país. A 1700 m, é a mais quente das cidades daqui. 
Chegamos a um hotel nas montanhas, com vista para o vale e para outros templos. Tem um rio calmo onde se pode fazer rafting. O pessoal está tentando me convencer e confesso que só vou pensar nisso depois do café da manhã.  


São 6:30 e todos dormem. Só eu que ainda estou no fuso desregulado e acordei as 5. Feliz. 

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