Punakha, Butão

26/04/2017
Acordei bem cedo e fui para a varanda grande do quarto, que dava para a linda vista que contei antes. Vi que havia um indiano já no jardim, fazendo alongamentos. Foram chegando vários, de um em um para a sessão de preparo para o dia. Todos alongaram e uma animada fez até polichinelos. No café da manhã os encontrei e disse que adorei o evento no jardim. "Você deveria ter vindo participar", eles disseram. 
Os indianos fazem parte do Saarc, uma espécie de Mercosul da Ásia, o que os permite entrar no Butão sem pagar as taxas de visitante e circular livremente sem guia, o que me causa certa inveja. Guias podem ser irritantes se não houver uma boa química, já que o convívio é ininterrupto aqui. 
No café havia Pao, ovos, arroz frito, salsichas locais, geleia, manteiga (deliciosa, queria levar pra casa!) e a razão pela qual a Lis será convencida de vir ao Butão: batata frita. No café da manhã. Tudo delicioso, fresco. Mas perguntei o que os butaneses comiam de manhã e eles responderam: arroz e chili. E prometeram me fazer café da manhã local no dia seguinte.  Eu estava ansiosa, mas acabaram nos mudando de hotel porque decidimos não ir para a cidade seguinte. Ela fica há 4 horas daqui, naquelas mesmas estradas de curva sem fim que me enjoam demais. Optamos por tornar o passeio mais leve e mais prazeroso. 
Saímos em direção ao templo da fertilidade. Na trilha que leva até o templo já se vê as casas e lojas pintadas com grandes falos coloridos e imponentes. Isso mesmo. Pintos enormes por tudo. Nas paredes, esculpidos em madeira, chaveiros, decorações, enormes, minúsculos. Pra todo gosto. 
O Lama responsável por esta linha budista ensinava os monges de forma divertida, fora do comum e relacionando os ensinamentos com sexo. 
Os telhados das casas tem um pinto em cada ponta. As portas tem um pintão pregado em cima delas, virado pra quem entra. As pessoas usam pingente de pinto nos colares. Acreditam que o falo traz sorte e espanta as fofocas. 
Eu quis trazer uns pra usar de gancho para as bolsas das visitas lá em casa, mas o Madá não quis nem ouvir falar. 

De lá fomos almoçar em um restaurante com vista para o vale. De novo, legumes com manteiga e shoyu de comer rezando (ou meditando?), frango, repolho, finalmente o maravilhoso arroz vermelho local e uma berinjela que ganhou o prêmio melhor prato do nosso almoço. Ela é bem verde aqui, tem aparência mais de jiló. Delicia. Ainda não tomamos a cerveja local, mas estamos curiosos. As únicas coisas que se paga a parte nos passeios é a bebida alcoólica e claro, as compras de artesanato. Ah, aqui é proibido fumar. O rei, quando perdeu seu pai para o câncer de pulmão, instituiu a lei que proíbe o cigarro. Tem placas pelas cidades todas. Turistas não sei, não vi ninguém fumando, mas butaneses não podem fumar. E assim parece ser o rei. Determina para o povo o que acha melhor, como um pai que cuida de seus filhos. Parece que todos o admiram muito e não há o de se entre que não se veja a foto da família real. Aqui e na Thailandia são os dois últimos países de monarquia budista. Ha poucos anos o rei daqui instituiu a democracia e desde então eles têm um parlamento. 
Tenho a impressão de que eles se sentem amparados pelo rei, que é aparentemente uma boa pessoa, pratica caminhadas em montanhas, se interessa por aventura em geral. Pra se entender o butanês, é preciso entender o relacionamento deles com o rei, que está em todas as conversas, em todos os estabelecimentos e até tem sua foto em broches das lojinhas de artesanato. 
Em muitas destas lojas, o próprio vendedor é o artesão, ou sua família. As kiras (roupa feminina), pulseiras e colares, pinturas, bordados e etc são lindos, mas tudo bem caro. Fiquei louca para forrar poltronas com o tecido das kiras (roupas femininas) mas o valor restringe bastante as compras por aqui. 

Pedimos ao guia para nos levar ao centro da cidade para que pudéssemos ver as lojas locais, como a cidade funciona fora do turismo. 
Entramos em algumas poucas lojinhas só para ver brinquedos da Disney (made in China), traquitanas em geral e muitas bolachinhas e salgadinhos industrializados. Aliás. As oferendas ao Buddha sempre tem sucos de caixinha, salgadinhos, maçã, manteiga, mel e leite. 
Em frente ao comércio havia uma estupa. São construções que se vê em todo o Nepal e Butão, começando em 5 cm de altura até muitos Metros. Elas são feitas sobre as cinzas de figuras importantes, religiosas ou políticas e devem ser visitadas em sentido horário sempre, girando suas muitas rodas de oração enquanto se dá a volta completa. 
Entramos e percebemos uma cerimônia acontecendo no templo ao lado dela. Tira-se os sapatos, óculos e qualquer adereço da cabeça como faixas, boné ou chapéu e permanece-se em silêncio. 
Monges de 6 a 16 anos estavam entoando mantras regidos por um Lama bem mais velho. Era lindo. O som trazia paz e ficamos ali um bom tempo. A cada vez que o Lama fechava os olhos para entoar o mantra, alguns meninos mais novos faziam gracinhas e se divertiam como qualquer criança desta idade. Os monges mais velhos riam e pediam comportamento aos pequenos, mas de maneira muito leve. 
Vimos crianças acompanhando suas mães também no templo da fertilidade. Reparei que as crianças daqui são muito alegres, ativas e entrosadas com avós, pais e mães. Mas aprontam! Fazem muitas gracinhas. A mãe grávida de uma delas abaixava-se para agradecer no templo e Pá - o menino de uns 4 anos dava-lhe um tapão no bumbum e morriam os dois de rir. Na loja, a filha da vendedora espirrava o spray aromatizador nos sovaquinhos e fazia a maior cara séria, enquanto nós ríamos muito e a mãe dizia que a Ainda bem que a filha era engraçada, porque ela mesma era muito feliz e animada. 

Viemos ao novo hotel após o passeio só pra ver nosso queixo cair. Mais alto e mais maravilhoso que o anterior, este aqui tem outra vista do rio e diretamente ao Dzong daqui, que é uma das fortalezas butanesas, construída no século XVII. 
Um chá de gengibre e mel depois, seguimos para visitá-lo. 
Totalmente rebuscado de entalhes pintados, Buddhas em todas as formas e tamanhos, monges por todos os lados, muitos turistas indianos e alguns pouquíssimos europeus. 
O interior lembra as igrejas antigas, douradas e super enfeitadas. Pinturas coloridas nas paredes contando a história do Sidarta. Tanta distração me pareceu distanciar do que deveria ser mesmo a ligação entre o indivíduo e o divino. Desculpem os religiosos (budistas, evangélicos, católicos, etc) pela interpretação simplista mas eu achei que encontraria um local com menos símbolos do que temos nas igrejas ocidentais.  

Mais pra dentro, menos pra fora é o que procuro. 

Agora vamos descer pra tomar um vinho Branco comprado no free shop porque aqui é difícil achar e vamos esperar a hora do jantar. 
Estou torcendo pra comer truta, peixe local que não se acha fácil em restaurantes porque aqui é proibido abater qualquer animal, a não ser que se tenha a licença do governo. Soube que alguns pescam em locais escondidos, e que o frango daqui vem da índia, abatido lá. 
A cada dia um novo aprendizado e a busca pelo crescimento espiritual. 

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