Paro, Butão - Tiger's Nest

28/04/2017
Os guias e nosso super simpático motorista, que não pára de sorrir (não sei se é a coisa que ele mastiga ou se é feliz mesmo) nos levaram até o Ninho do Tigre (Tiger's Nest). 
É um templo construído no século XVII em um lugar impossível, a 3250m de altitude. Estamos em Paro a 2490m. 
Sim, subimos a pé. Sim, super inclinado. Aham quase mata. 
Levamos 1 hora e meia para chegar lá, sendo que a média leva 3 horas. Fomos bem, melhor que a média, mas no final há 700 degraus para acessar o templo. Subida e descida. Minhas panturrilhas ardiam. Mas a vista é incrível. Subimos o equivalente a 190 andares. Mas a vista valeu cada passo. 
Na trilha, composta de terra e galhos ou pedras formando escada, encontramos pessoas de 8 a 70 anos, cada um no seu ritmo. Americanos, europeus, mexicanos e muitos indianos. Subindo de sandalhinha de dedo, ou de calça social, camisa e colete. 
O templo fica apoiado nas pedras, na lateral de uma montanha altíssima, e não em cima. Em cima da montanha seria mais tranquilo, apoios em toda a sua base. Fiquei o tempo todo achando que ia dar um terremoto e aquele negócio ia despencar lá pra baixo. 
Os monges moram lá em cima e fazem cerimônias nas suas várias salas, cada uma dedicada a uma área do budismo, a um Buddha ou às Taras, etc. 
Lá em cima é gelado, e é preciso deixar tudo em
um armário na entrada. Os guias fecham com cordõezinhos coloridos ou pedacinhos de plástico amarradinhos. Morremos de rir porque só vimos isso na hora de pegar a mochila, cheia de câmeras. 
Sugestão para quem se animar de subir lá: leve cadeado, blusa e lanchinhos. 
Depois de mais ou menos uma hora de caminhada morro acima, há um café ou chá com bolachas salgadas salpicadas de açúcar. Com vista perfeita pro Tiger's Nest. 
Da pra recuperar as forças e se maravilhar com a vista da cidade, das montanhas e do templo. No caminho, vimos macacos locais, bem clarinhos, que só vivem acima de 3 mil metros de altitude. 
Na descida, com fome e o pé doendo, desci quieta. Madá veio conversando com indianos super interessados no Brasil e depois com os guias. Mesmo eu estando com uma cara fechada (não gosto de trilha, de fome, de pé doendo, e no final sempre me lembro disso) ele não saiu de perto de mim. 
Levamos uns 40 minutos para descer. Ao final, há uma feira de artesanato muito interessante. Brincos, bandeirinhas, Buddhas, maçanetas super rebuscadas, que já havíamos namorado no Nepal, aqui acabamos levando. O preço nesta feira é bem melhor que nos outros pontos de venda da cidade. 
Como disse o Penjor, eu estava P da vida descendo a trilha com fome, mas vi a feira e esqueci. 
Fomos almoçar em um restaurante no centro da cidade, delicioso, pra variar. Sopa de legumes (cenoura e rabanete. Nunca tinha visto rabanete na sopa), arroz, uma espécie de pastel sem recheio, frango ao molho e pra minha alegria, vagem e aspargos. Colhidos e cozidos frescos, são imbatíveis. Depois do almoço, como sempre, chá de gengibre. 
Demos uma volta pelo comércio da cidade e vimos mil vitrines com pintos (falos) de todo jeito. Tinha até uns com asas. 
Tomamos um café com torta de maçã em um local mais moderninho. Tentem entender. Mais moderno para o estilo geral do país. Tinham mesinhas em madeira clara, máquina de espresso, poltronas e um banheiro com vaso sanitário. Só isso já vale a visita. Aqui a maioria é vaso turco, daqueles que são encaixados em um buraco no chão e a gente tem que se abaixar totalmente. Me recuso, a não ser em condições extremas. 
O Penjur havia nos prometido um banho de água aquecida por pedras e seguimos pra lá. 
Paramos em uma fazenda super simples, cheia de moradores sorridentes, de 1 a 70 anos, ou mais. 
As pedras não estavam Ainda quentes, então fomos brincar de arco e flecha, esporte local. 
Errei feio o alvo, e desisti. O Mada foi firme, jogou bários minutos com os guias e moradores e finalmente acertou o alvo. 
Lais e Ed estavam achando o local simples demais e ficaram desconfiados do tal banho. Eu e o Mada queríamos experimentar. Então Penjor nos chamou e ficamos vendo os meninos pegarem com instrumentos de ferro as pedras de rio flamejantes e passando-as em uma lata de água para tirar as cinzas para depois jogá-las nas 4 banheiras feitas de madeira e enterradas no chão, dentro de um casebrinho ultra simples. As pedras ficam separadas da banheira por uma madeira furada, e a água é jogada nelas para ir esquentando. No final, jogam um ramo grande de artemísia, cicatrizante e anti inflamatório natural. Dizem que as pedras soltam seus minérios na água e tratam dores nas articulações e musculares. 
Entre cada banheirinha, um pano simples de algodão, estampadinho e remendado, diferente um do outro. Nas duas portas, paninhos também nos dão privacidade. 
Todos colocamos o primeiro pé na água e ficamos maravilhados com a delicia. 
Embora fossem pequenas, o relaxamento foi total. Ali, naquele barraco entre as montanhas butanesas, enterrados em banheiras de madeira e ouvindo a conversa dos fazendeiros, relaxamos completamente da dura caminhada da manhã. Demos muita risada e ficamos completamente a vontade. O banho superou todas as nossas expectativas. 
Nos vestimos e Penjor nos surpreendeu novamente, quando nos levou pra dentro da casa, pedindo para tirarmos os sapatos e entrar na sala de dança. 
Uma sala grande, encarpetada e com vários colchonetes estampados, fizemos alongamento, poses de Yoga e demos muita risada. 
De repente a dona da casa nos traz pratos e tigelas de comida. Era o nosso jantar. Sentamos no chão e comemos muito bem. Ela mesma havia nos preparado a comida, com os vegetais da horta deles, ovos das gordas galinhas que havíamos visto ali, arroz plantado por eles e queijo com chili. Comemos rezando, estava tudo delicioso. Comida de roça é comida de roça em qualquer lugar, a melhor do mundo. 
Na volta para o hotel, pensei em perguntar aos 3 o que eles achavam que fazia os butaneses felizes, afinal. Mas com certeza iriam fazer piadas falar bobeiras para nos fazer rir, então desisti. Até porque, humildemente acho que já entendi. 
A base da felicidade deles está no budismo e nos seus princípios. São mais ou menos os mesmos que os nossos princípios cristãos, mas aqui tem muito mais leveza. 


Não maltratar as outras pessoas nem a si, comer o suficiente sem exagero, respeitar a natureza e os animais, dar risada. Levar uma vida leve. Com trabalho, amigos, convívio de amor em família. Amar. 

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